Kuong trabalhou numa corporação policial durante muitos anos. Apesar do bom vencimento, era um homem calculista e que nunca deixava fugir vantagens, por pequenas que fossem.
Um dia, Kuong encontrou no mercado Mei Kun, a empregada doméstica do vizinho. Depois de se cumprimentarem, ela perguntou-lhe:
— Tens um emprego muito bem pago. Nunca pensaste em arranjar uma empregada para tratar da casa?
— Pensei, claro. Mas hoje em dia ter uma empregada doméstica não é nada barato. Não me posso dar ao luxo de oferecer um salário mensal de 3.000 patacas — respondeu Kuong. — Será que tens alguém para me recomendar? — sondou.
Era o ponto a que Mei Kun queria chegar. Apressou-se a dizer:
— Tenho, tenho. Uma amiga minha está muito interessada. Desde que lhe dêem alojamento e alimentação, o salário é negociável.
— Diz lá o preço.
— Ela aceitaria mil e tal patacas.
Mas Mei Kun salientou mais uma vez que a única condição era o alojamento.
«Tão barato? Deve ser uma empregada ilegal». A ideia surgiu imediatamente na mente de Kuong. Foi confirmada pela outra.
Sendo agente de autoridade, Kuong sabia, sem dúvida nenhuma, que contratar mão-de-obra ilegal é uma violação da lei. Contudo, a ganância por vantagens que o caracterizava fê-lo render-se à tentação. Decidiu arriscar. No encontro, preparado por Mei Kun, as duas partes chegaram rapidamente a acordo: Kan, amiga de Mei Kun, receberia mil e seiscentas patacas por mês, alojamento e alimentação. Kuong estava tão satisfeito com a «pechincha», que não se apercebeu de que, afinal, estava a apanhar lenha para se queimar.
Nenhuma maldade pode ficar oculta para sempre. O Comissariado contra a Corrupção acabou por descobrir a contratação de mão-de-obra ilegal por Kuong, enquanto agente de autoridade. Provas irrefutáveis foram obtidas a breve trecho. No tribunal, ele confessou o facto de ter contratado mão-de-obra ilegal, mas alegou que a contratação ocorreu numa altura em que sofria de perturbações psicológicas e dores na coluna, devido ao stress do trabalho. Desconfiando do argumento do réu, o juiz considerou que aquela infracção deliberada, de um elemento duma corporação policial, não estava directamente relacionada com o seu estado de saúde. E Kuong foi condenado à pena de um ano de prisão, com suspensão da sua execução por dois anos, na condição do pagamento de 60.000 patacas à RAEM num prazo de 3 meses, a título de compensação.
Contratar mão-de-obra ilegal foi o crime deliberadamente cometido por Kuong, que acabou por ser apanhado nas malhas da lei. Mereceu o castigo.
* * *
Um agente policial deve ser um bom exemplo na observação das normas legais e disciplinares e defender voluntariamente a boa imagem do Governo e da sociedade. Se, por cobiça de pequenos interesses, atropelar deliberadamente a lei, prejudicando o interesse público, deve ser punido nos termos da lei. Porque quem semeia ventos colhe tempestades.