privacy-icon 1. A Incorruptibilidade

date-icon 20200612

Como examinador, com vários anos de experiência profissional, Chan enfrentava diariamente muitos candidatos à obtenção da licença de condução que vinham fazer exame. Alguns mostravam-se autoconfiantes e outros pareciam muito nervosos. Também não faltavam os que procuravam despertar compaixão e os que tentavam dissimular a sua má preparação.

Chan tratava-os sempre com imparcialidade, fossem quem fossem. Felizmente, nunca encontrou candidatos mal-intencionados que, para ficarem qualificados no exame, recorressem a meios astuciosos ou ilegais. «Mas, na eventualidade de estar perante este tipo de pessoas, como devia agir?» Interrogou-se uma vez, quando navegava na internet à noite. Entrou no site do Comissariado contra a Corrupção. Começou a ler, atentamente, os comunicados de imprensa sobre os casos descobertos pelo CCAC.

Eram casos que lhe despertaram grande interesse. Depois de ler alguns, chegou a uma conclusão: para além do esforço do pessoal do CCAC, a colaboração dos denunciantes, ao apresentar pessoal e imediatamente a sua denúncia, permite eficácia na investigação dos casos e na punição dos infractores.

Um dia, um examinando, de nome B, apresentou-se a exame. Na opinião de Chan, era muito fraco, em termos de técnicas de condução. Depois de comprovar várias falhas graves cometidas por B, Chan comunicou-lhe claramente que estava chumbado. O surpreendente foi que B tirou do bolso umas notas de mil, que já tinha preparadas.

— Óh Sr. Examinador, salve-me um pouco a face. Morro por ter a carta de condução, para poder conduzir o meu carro de luxo. Basta um pouco da sua condescendência. Sinceramente, ainda que não me deixe passar, conduzirei na mesma, sem carta! Se calhar o senhor não sabe, mas hoje de manhã vim para o exame no meu carro!

O examinador mostrou-se indiferente à tentação. Além disso, repreendeu o acto de B. Mas este, que não se mostrou arrependido, insultou Chan, ao abandonar o veículo de exame.

— O examinador é algum rei? Olhe, tenha cuidado! — ameaçou.

Os crimes de corrupção, que habitualmente chegavam ao conhecimento de Chan através dos jornais e da internet, nunca lhe tinham parecido tão vivos e chocantes como naquele dia. Estando seguro, em consciência, de que era um funcionário público íntegro e cumpridor da lei, teve imediatamente uma ideia: denunciar o acontecido, pessoalmente e com a maior brevidade, para reprimir os corruptores e impedir os cidadãos de terem prejuízos.

Nas instalações do CCAC, Chan denunciou o acto de B ao pessoal aí em serviço e procedeu a algumas formalidades simples inerentes à apresentação da denúncia. Ao sair, sentiu-se repentinamente elucidado e satisfeito. Afinal, esta deslocação para apresentar pessoalmente a sua queixa tinha sido uma decisão correctíssima. Se tivesse sido através de carta ou telefone, teria sido impossível dar tantos pormenores, incluindo as palavras do subornador. Estar face a face com o pessoal do CCAC, que soube pôr-lhe questões para lhe avivar a memória, permitiu-lhe fornecer informações muito mais detalhadas.

Um dia, mais tarde, ao folhear um jornal, uma notícia saltou-lhe à vista. O título dizia: «Examinando suspeito de subornar o examinador. O caso foi encaminhado para o Ministério Público pelo CCAC». Chan leu a notícia, que o levou àquele dia. Ao lembrar a sua coragem em ir ao CCAC apresentar pessoalmente a sua queixa, cumprindo um dever cívico, desenhou-se-lhe nos lábios um sorriso esclarecedor. Estava comprovada a correcção da sua opção.

* * *

Um servidor público íntegro é respeitado pelos cidadãos. Os funcionários públicos devem exercer com justiça e isenção as suas funções. Devem cumprir o dever de comunicar aos serviços competentes os casos de corrupção de que tenham conhecimento, com o objectivo de salvaguardar o bom nome e a imagem de integridade da Administração Pública e dos seus trabalhadores.
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